Discos, livros e tudo mais #4
Último apanhado de recomendações do ano, destinado na íntegra aos assinantes que contribuem financeiramente com a newsletter
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As nadadoras, de Sally El Hosaini, Netflix (2022)
Angustiante e brutalmente real, baseado na história verdadeira das irmãs sírias Yusra e Sara Mardini, tudo neste filme é tão intenso que parece mesmo ser coisa “de filme”. Infelizmente, não é. Nadadoras na Síria, as duas fogem da violenta guerra civil que assola o país lançando-se em uma travessia de tensão permanente, onde tudo parece estar sempre por um fio. Entre toda a dor dessa ruptura forçada, dos horrores da guerra, da xenofobia que desumaniza refugiados na Europa, o sonho de Yusra em nadar nos Jogos Olímpicos do Brasil, o amor entre irmãs e pelo esporte são fagulhas de esperança na história (e na humanidade).
Comida de Quintal, de Luisa Macedo, Youtube (2022)
Fruto do projeto de pesquisa da fotógrafa mineira Luisa Macedo sobre mulheres em seus quintais na região metropolitana de Belo Horizonte, este curta-metragem é uma verdadeira reverência aos quintais como espaços de resistência, essencialmente femininos. Poesia pura, belamente fotografado, o filme é narrado por Luisa, que conduziu também as entrevistas com as três personagens retratadas, e foi selecionado para ser exibido em vários festivais e eventos internacionais, entre eles o World Food Forum, na Itália, e o Seoul International Food Film Festival, na Coreia do Sul. Meu coração ficou quentinho em saber que graças a trabalhos sensíveis assim, a história desse Brasil tão genuíno possa chegar tão longe. A pedido meu para divulgar aqui, Luisa gentilmente disponibilizou o filme em um link público no Youtube.
DISCOS
(para ouvir de cabo a rabo)
O que meus calos dizem sobre mim, Alaíde Costa (2022)
87 anos de vida, bem mais de meio século de carreira, Alaíde Costa, não bastasse tudo o que já fez, ainda lançou este disco precioso em 2022. Carioca do Méier, Alaíde é uma das vozes que atravessaram gerações no Brasil como a dama do samba-canção, aquele samba mais melódico, macio e sentimental dos anos 1960. Nesse disco, a tradição baila com a beleza da novidade: o álbum é produzido por Emicida e Marcus Preto, diretor artístico de Gal Costa; Turmalina Negra, tem a assinatura de Céu. Erasmo Carlos e Tim Bernardes são parceiros na composição de Praga, e Aurorear, de Joyce Moreno, é de onde vem o trecho que dá nome ao álbum: o que meus calos dizem sobre mim. Ternura em seu modo mais lindo traduzida em música, arranjos e versos muito bem cuidados. Para completar, a suavidade da foto de capa (de Ênio César) é de uma paz inexplicável que mexe comigo a cada vez que volto a vê-la — não parece que ela está fazendo um pedido bom ao destino?
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