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Sal e pimenta (parte 2)
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Sal e pimenta (parte 2)

Piri-piri, jindungo, malagueta, ataré, jiquitaia e a problemática pimenta-do-reino

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Mateus Habib
fev 19, 2023
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Botei um ponto final no texto do último domingo, um mergulho em águas saturadas de sal, dizendo que pimentas, primeiro, tinham vindo de África. Foi um ponto de continuação, porque tecnicamente, apesar de existirem pimentas nativas na Ásia, na África e nas Américas, as primeiras a serem mercadas pelo antigo reino de Portugal foram as africanas. Contornando a costa da África Ocidental de cima a baixo, no afã de chegar à Índia e dominar a Rota das Especiarias, os portugueses exploraram antes o Golfo da Guiné, área que viria a ser conhecida como a Costa da Malagueta. O nome, é fácil perceber, entrega a especialidade local: desse entreposto comercial, meio do caminho para o Oriente, além de africanos cruelmente escravizados, grande especialidade lusa, portugueses também vendiam marfim, pele, tecidos nigerianos vindos de Ifé e, claro, pimentas. Entre elas a conhecida como ataré, pimenta-da-costa ou pimenta-da-guiné, que lembra um bago de urucum, mas sem espinhos. Usada depois de seca, guarda em suas vagens grãos arredondados como os da pimenta-preta, da qual foi substituta temporária na Europa, onde a versão indiana, alvo de grande cobiça, era vendida a preço de ouro.

A pimenta-preta esteve na antiguidade greco-romana, no Egito e na Idade Média, mas só virou produto corriqueiro na cozinha europeia após firmada a nova rota de comércio marítimo português às Índias, no fim do século 15, depois de já conhecerem de longa data as pimentas africanas. A da costa foi, então, desbancada pela nativa da Índia, lida até hoje pela maioria dos brasileiros como pimenta-do-reino — mas que era dele por apropriação, não por natureza. É importante lembrar que pimenta-do-reino é um dos termos correntes do português falado no Brasil, repetidos inconscientemente, que seguem alimentando um passado de apego colonial. Parece um detalhe pequeno, mas que merece ser problematizado porque há séculos não somos mais uma colônia, tampouco Portugal vive um reinado. Principalmente porque, graças a uma resistência afroindígena poderosa, começar ou terminar qualquer prato com pimenta-preta não é exatamente um hábito brasileiro. No máximo pimenta com cominho, mistura que quando moída na feira, em moedores de ferro, levanta um cheiro potente.

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