Na última segunda-feira, provando o novo cardápio do Marchezinho (que está uma coisa de bom, aliás), conheci o Bruno Negrão, um dos fundadores da Comuna e da Junta Local, projetos que tanto gosto e admiro. Papos, pratos e copos indo e vindo, coincidimos em achar uma sorte em comum: somos cariocas de parentes muito próximos fixados em Salvador, que nos fazem ter sempre a desculpa de voltar, sistematicamente, missão que abraçamos quase como divina. Ele me disse uma coisa bonita que não esqueci, e que tem, mesmo, tudo a ver com a cidade de Salvador, especificamente. Contou que a praia era um lugar verdadeiramente democrático, lá sim, já que a extensão da orla volteava grande parte do perímetro urbano, graças a sua formação peninsular, rodeada de água por quase todos os cantos. Disse que ir à praia no Rio, para a maior parte da população, ainda significava se empoleirar num transporte público lotado por um bom tempo — e quem decidisse levar seu lanche ou almoço ainda acabaria sendo tachado de farofeiro pelas peruas de Ipanema.
Em Salvador, não. São mais de 50 quilômetros de praias que banham não só os bairros mais abastados, mas também os subúrbios ferroviários e os bairros centrais, sem pompa, descascados de cinza, tudo de águas calmas e mornas. Isso quer dizer que o mesmo mar de Itapuã e do Farol da Barra, por exemplo, também enche a Baía de Todos os Santos, credos e posses, e chega até a praia de São Tomé do Paripe, subúrbio profundo no litoral de Salvador, a última paragem da linha do trem. Ajuda a explicar o porquê de a Bahia ter esse condão de esperança e desembaraço, essa vocação tão escancarada para a felicidade a despeito de todas suas marcas tão doídas. Água salgada melhora a vida da gente, tive certeza, e é margeada por ela que escolhi alguns lugares pulsantes para se viver e amar a primeira capital do Brasil.
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